segunda-feira, 9 de agosto de 2010

LITERATURA: Carta ao Pai, Kafka.

"Eu sempre gostei de você, embora na aparência não tenha sido como costumam ser os outros pais, justamente porque não sei fingir como eles" (Carta ao Pai, Franz Kafka).

Aproveitando o dia dos pais, escrevo sobre o conto Carta ao Pai, de Franz Kafka. Na verdade não escrevo sobre o conto (tire sua conclusões lendo-o, link: http://www.scribd.com/doc/6906402/Franz-Kafka-Carta-ao-Pai) e sim utilizarei a idéia do conto para escrever a minha “carta ao pai”.



Caro Pai,



Antes de começar essa carta gostaria de lembrá-lo de algo que eu realmente acredito, o amor não é “genético”. Acho importante dizer isso para não ser julgado pelo Sr., como já fui julgado diversas vezes quando falava de ti.
Outra questão que gostaria de tratar a priori, é que não busco, com essa missiva, sentenciá-lo, a escrevo em forma de desabafo somente, não o desabafo de alguém que está engasgado e que não consegue seguir sua vida sem o fazê-lo, mas o desabafo de quem acha que chegou o momento de falar: pura e simplesmente.
Entendo que nossa relação, ao longo desses anos, não foi muito proveitosa, tampouco agradável, mas gostaria que soubesse que não o culpo. Não me culpo também, isso seria demasiado falso no momento. Prefiro encarar esses anos de maneira natural, com certa resignação. Julgá-lo pelas suas atitudes e convicções seria tão infrutífero quanto o contrário.
Desde o momento que nos afastamos venho pautando minha vida e meu comportamento nos seus, só que ao contrário, mas entendo nesse momento que não ajo de maneira correta. Esse comportamento me cegou e confundiu minha formação. Você nunca deveria ter sido parâmetro. Pai, hoje entendo que não quero ser antagônico a você, não preciso disso. Meu caráter não foi definido em resposta ao seu, minha conduta e minha personalidade também não. Existem muitos fatores que influenciam nisso, você é só mais um deles.
Pai, outra coisa que gostaria de te confessar é que não acredito em compensação da vida, nem do destino, tampouco de Deus. Na vida não colhemos o que plantamos, nós simplesmente plantamos e colhemos de maneira independente. Minha ausência e meu silêncio nunca tiveram a intenção de puni-lo, estaria punindo a mim se simplesmente quisesse te amar agora, o tempo disso passou.
Nesse dia dos pais, peço que não execre a minha negação, que não me culpe, ou se culpe, por coisa alguma. Não desejo nenhum mal a você, na verdade eu não desejo nada.

5 comentários:

  1. Poeta, uma vez ouvi uma expressão que levo até hoje comigo: Amor e perdão. Dito isso, fecho aqui.

    Alex

    ResponderExcluir
  2. Amor é amor. Perdão é perdão. Menino é menino e Baitola é baitola.
    Abs Mascote

    ResponderExcluir
  3. Faz um post citando Kafka e comenta com uma citação ao Falcão do Girassol na Lapela.
    Nada como ecletismo!

    ResponderExcluir
  4. NO DIA DOS PAIS..QUEM NÃO DER PRESENTE É UM FILHO DA MÃE.

    ResponderExcluir
  5. "Querido Pai:
    Você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni-los numa fala.(...)"

    O começo dessa "Carta" é fantástica. O início dos livros de Kafka são sempre fantásticos. Se alguém merece ser lido é essa cara. Eu, sendo um agustiado perplexo, tenho facilidade de me vincular ao que ele escreve.

    Sobre a carta do Emerson, acho que qualquer coisa que nos faça sentir melhor é válida.
    Espero que o desvinculamento emocional que tu expressa na carta seja real dentro de ti. É sempre melhor sacrificar todos os nossos fantasmas. Acho que o tempo faz isso. Tomara que faça comigo.

    Abraço do "cumpadre"!

    ResponderExcluir