segunda-feira, 23 de agosto de 2010

LITERATURA: As pequenas grandes coisas de Manoel de Barros.

"Mas o nada de meu livro é nada mesmo. É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo, etc, etc. O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use o abandono por dentro e por fora."
"A inércia é o meu ato principal."
“Não preciso do fim para chegar.”
"Do lugar onde estou já fui embora.” (Fragmentos da Obra "Livro Sobre Nada")

Seria possível fazer esse post somente com fragmentos da vasta obra de Manoel Wenceslau Leite de Barros, ou somente Manoel de Barros.
Esse grande poeta cuiabano, nascido em 19/12/1916, consegue transmitir em suas poesias uma inocência cheia de conceitos. Não raramente vemos palavras usadas com significados inexistentes, verbos que antecipam ações impossíveis e grande quantidade de elementos simples. E é na simplicidade que Manoel de Barros nos encanta, ele escreve sobre coisas miúdas, coisas menosprezadas pelo ambiente, "coisas desimportantes".
Quando vemos o tratamento recorrente que Manoel de Barros dá as formigas conseguimos ter noção da grandeza de sua obra: "Aliás, o cu de uma formiga é também muito mais importante do que uma Usina Nuclear" ou "Para infantilizar formigas é só pingar um pouquinho de água no coração delas."
Ler a obra de Manoel de Barros é das coisas mais agradáveis. Ao adentrar em seu universo notamos como é fácil identificar o odor verde de lagartixas e achar palavras que servem na boca de pássaros.
Manoel de Barros coloca tanto nada em sua obra que chega a transbordar.
Em minha opinião Manoel de Barros é o maior poeta vivo brasileiro. Vale a pena conhecer mais de sua obra e também conhecer um pouco de sua vida. Outra coisa fenomenal de Manoel de Barros são suas entrevistas, pesquisando no google encontrei várias, inclusive uma dele com ele mesmo:
Para encerrar o post nada melhor do que mais fragmentos da obra "O LIVRO DAS IGNORÃÇA" desse gênio da poesia brasileira.

"A chuva deformou a cor das horas"
"Não sei mais calcular a cor das horas."
"Só sei o nada aumentado."
"As coisas me ampliaram para menos."
"As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças."
"Descobri que todos os caminhos levam a ignorância."

2 comentários:

  1. A inocência perdida... Qualquer coisa que mantenha a sua inocência (o que parece ser apontado como errado no pós modernismo) deve ser valorizado.

    Abraço,

    Alex

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  2. Acho fantástico este teu post sobre o Manuel de Barros. O cara é fantástico. sua poesia nos leva a algum outro lugar que não é aqui. Quando percebemos acabamos nos encontrando num outro estado, onde é facil, muito fácil ser feliz.
    Alguns podem pensar que seja alienação [apesar de, em minha opinião, a "conjunturização" do pensamento e as "intelecualices" ser algo altamente desinteressante (leia-se: engajamento político)], mas acho q poesia é isso: alienar-se daquilo que esperam de nós, daquilo "que nascemos para ser"... parar um pouco pra falar do que não conseguimos dizer.
    Acredito, também, que discutir muito poesia não serve. O que importa é ser "inspirado" por ela. Ser tocado por ela.
    Valeu.

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