quinta-feira, 31 de março de 2011

MEMÓRIAS DE UM ESTUDANTE DE MENTIRA (5)

A Janela da Xenofobia

Este caso específico não contou com a produção intelectual do Man, porém ele deu a sua parcela de contribuição, valiosa contribuição.
Eu não me recordo muito bem quem teve a idéia do que contarei a seguir, existe a possibilidade de ela ter sido minha, o que não me orgulha nem um pouco. Se alguém lembrar o autor dessa m. escreva nos comentários.
Mas no que consistia a Janela da Xenofobia (nome recém inventado)? É bem simples: no momento em que ocorria um gol em algum jogo televisionado, todos os Mans iam para janela e ofendiam aos gritos os argentinos intercâmbistas.
Essas ofensas não eram justificadas, haja vista que os argentinos que ficavam na CEU em razão de intercâmbio não eram chatos, não incomodavam ninguém e tampouco eram alvos de brigas. A prática só existia porque era engraçada, para nós pelo menos.
Para melhor compreensão dos fatos darei um exemplo. Digamos que era noite de clássico, Veranópolis (o pentacolor da serra) x Farroupilha (o fantasma de Pelotas), logo quando uma das equipes marcasse o seu gol, todos que estavam no quarto assistindo a partida corriam para janela e começavam a gritar coisas do tipo: argentino FDP e chupa argentino. Depois de um tempo começamos a perceber que moradores de outros andares entraram na onda e também se encaminhavam para as suas janelas visando ofender os hermanos.
Em uma dessas efusivas comemorações eu cheguei até a quebrar a minha cama. Tudo aconteceu quando o meu tricolor fez um gol importante, talvez até um que valesse o título, e tomado de pura emoção me atirei em minha cama (que ficava sob a janela) e xinguei como nunca os argentinos, não deu outra, o impacto dos meus joelhos com a frágil estrutura de madeira causou automaticamente uma fratura exposta do estrado da cama. Depois de inúmeros e infrutíferos consertos, decidi que não dava mais e passei a dormir em um colchão no chão, por incríveis 6 meses, argentinos desgraçados.
Em um determinado momento a brincadeira de xingar os argentinos foi perdendo força e deu lugar a uma manifestação menos agressiva: o manifesto ao abraço (nome também recém inventado). Ao acontecer algum gol na rodada nós íamos para janela e mandávamos abraços, principalmente para torcedores de times menos famosos ou para países inóspitos. Para ilustrar: acontecia um gol e lá estávamos nós: alô torcida do ASA de Arapiraca, aquele abraço; alô torcida do XV de Jaú, aquele abraço; alô população de Botswana, aquele abraço e assim por diante.
O mais interessante nessas manifestações na janela era que elas aconteciam a todo o momento e em qualquer jogo. Poderia estar passando um jogo que não tivesse nada haver com a situação ou que não valesse nada que nós estávamos na janela, xingando argentinos ou mandando nossos efusivos abraços.

“AMCEU é tu”

Definição operacional de termos:
  • AMCEU: Associação dos Moradores da Casa do Estudante Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
  • Presidente da AMCEU: morador que independente do horário recebe visitas em seu quarto com demandas para serem resolvidas. Rapaz extremamente introvertido com nariz avantajado.
  • Tesoureiro: universitário com problemas até para resolver as adições mais elementares que se candidatou ao cargo por ter feito uma cadeira de matemática financeira no curso técnico em Transações Imobiliárias, nesse caso EU.
  • Vice-presidente: estudante chapada com as idéias mais estapafúrdias como correr pelados de mãos dadas pelos corredores, e o pior, ela falava sério. 
  • Secretário-geral: sujeito lunático, extremamente perturbado, que há anos ficou preso há cadeiras do primeiro semestre, contestador por natureza (até tentou desmascarar Einstein, sobre uma teoriazinha da relatividade), adepto de atos noturnos (jogar basquete em um dos parques mais perigosos de Porto Alegre), resumindo: um universitário comum.
  • Colaboradores: alguns poucos amigos que não queriam a responsabilidade de assumir um cargo, mas que também não queriam perder a palhaçada que eram as reuniões da AMCEU.
    Era mais ou menos assim que a AMCEU era constituída. Pessoas com as mais diversas perturbações em prol do bem comum de uma moradia estudantil onde residiam em torno de 400 estudantes universitários.
    Quando nos candidatamos para a associação nós sabíamos que seriamos a única chapa, só o que não sabíamos era que a chapa deveria ter um nome. A priori pensamos em nomes comuns e alguns engraçados como “Chapa o Coco”. Diante da falta total de criatividade tive que agir, usando toda a minha sagacidade e perspicácia fiz a minha maior cagada mental e criei o seguinte nome “CHAPA-OLIN”. Não parece brilhante? O nome foi aceito imediatamente, sucesso de público e crítica. Só tinha um problema, para que ele pudesse ser oficial ele tinha que significar alguma coisa, só a piada em si não garantia o seu sucesso. Como foi difícil definir o que significariam essas letras. Não lembro exatamente, mas deve ter sido algo do tipo ”Organização para a Libertação de Ideias Novas” ou “Organização de Limpeza de Imundices Nórdicas”, não me lembro mesmo. 
    Foram muitas as passagens engraçadas da AMCEU, vou tentar lembrar de algumas.
    As reuniões ficaram marcadas para os anais da CEU, elas ocorriam todas as segundas-feiras a partir das 22 horas. Me lembro de uma em que estávamos falando sobre um espaço ocioso no nono andar, todos deram idéias a respeito de como ocupá-lo e o nosso secretário geral resolveu se calar, ficando totalmente circunspeto em seu canto. A reunião seguiu com outras discussões, e não é que um bom tempo depois, 1 hora e meia mais ou menos, o nosso secretário levanta o dedo e mostra uma planta baixa do nono andar (que ele acabara de rabiscar), em seu desenho continha um avançado projeto para revitalização daquele espaço, só que o que ele desenhou tão minuciosamente não representava nenhum das ideias dada na discussão anterior, o cara simplesmente se mandou para um universo paralelo e lá ficou até chegar ao desenho final, que em sua cabeça solucionava todos os problemas do mundo. Obviamente aquela manifestação foi minimizada pelos demais, e o que se viu foram disfarçados risos.
    Para se ter ideia da paranóia delirante que afetava o nosso secretário, uma vez ele precisava avisar o presidente da AMCEU sobre uma reunião emergencial que teríamos, para transmitir sua mensagem ele a colocou em um bilhete e foi até o quarto do nosso excelentíssimo. Chegando lá ao invés de deixar o bilhete e sair, ele bateu na porta e ao ser atendido entregou o bilhete em mãos para o presidente que naturalmente perguntou do que se tratava, ele simplesmente disse “leia o bilhete”, que dizia “reunião ás xx horas”. Ele era tão lunático que para não ter sido em vão o bilhete, fez com que este fosse lido.
    Outro elemento que não faltava nas nossas reuniões era a poderosa frase criada pelo nosso excelentíssimo presidente: “AMCEU é tu”. Essa era a frase mais apropriada para as pessoas que vinham pedir coisas que elas mesmas poderiam fazer. Por exemplo: chegava um representante de andar pedindo que a AMCEU retirasse um sofá do hall do andar, automaticamente o nosso presidente dizia a famigerada frase mostrando que não precisa ser oficialmente da associação para fazer alguma coisa pela casa. Obviamente com o passar do tempo a frase se tornou resposta para tudo (com certo deboche), qualquer que era o problema tava lá a resposta “AMCEU é tu” e assim foi ao longo daquele interminável ano de gestão.
    Teve também o torneio de Futsal que organizamos. Desse eu tenho boas e más recordações. O torneio foi feito com sérias restrições orçamentárias, tanto que eu tive que organizá-lo e arbitrá-lo, também fui atacante de um dos times. Você pode estar se perguntando se o fato de eu ter sido arbitro, organizador e atleta trouxe alguma vantagem ao meu time, eu te respondo que mesmo se tivéssemos todas as vantagens do mundo ainda teríamos perdido todos os jogos. Meu papel como jogador foi pífio, mas como arbitro não foi muito melhor. Eu consegui expulsar o cara mais chato da CEU (ponto pra mim), mas consegui criar diversas inimizades com um time feminino, o que gerou inúmeras ameaças. As meninas ficaram transtornadas com a não marcação de alguns gols contra de uma goleira, que colocava a bola dentro do gol sempre que ia fazer uma reposição, e me juraram de morte. Outro acontecimento memorável foi o lanche que a AMCEU disponibilizou para os atletas, era: pão com presunto e queijo, banana e refrigerante Bonanza sabor tutti-frutti (talvez o pior refrigerante já fabricado no Brasil). No final deu tudo certo, apesar de eu ter que ficar duas semanas sem aparecer nos corredores da CEU. 
    Balanço final: o balanço final do caixa foi de superávit, algo em torno de 120 reais, se eu não errei as contas. Para a CEU foi muito bom, tendo em vista que até Internet nos quartos nós conseguimos conquistar na nossa gestão. Pra nós foi uma experiência pouco produtiva mais muito engraçada.

    quarta-feira, 23 de março de 2011

    Outra enquete

    A partir de hoje tem uma nova enquete no blog: "Para onde você mandaria o Man (personagem principal da série Memórias de um Estudante de Mentira)?"
    Para quem não sabe ainda, a enquete fica no canto superior esquerdo do Blog.
    Aproveito para comentar os resultados da enquete anterior: "Qual das categorias do blog é a mais interessante?"
    A categoria que recebeu mais votos foi Memórias de Um estudante de Mentira com 9, logo em seguida vieram Música (3), Cinema (2) e Literatura (1). A opção Artes não foi votada, o que reforça a idéia de que eu não devo escrever mais nada a respeito dela. Sendo assim, o blog vai dar um tempo, digamos assim, para posts sobre Arte, Dali agradece.

    Agradeço a todos que votam nas enquetes, imagino que estes entendam de verdade a importância desse ato.


    quinta-feira, 17 de março de 2011

    MÚSICA: TOP 10 BANDAS NACIONAIS DE UMA MUSICA SÓ!

    “Se eu te dou minha pamonha tu me dá o teu cural?” (Trecho de Funk da Pamonha, interpretado por Rodney Dy).

    Com essa ode ao escambo dou início a mais um top 10: Bandas Nacionais de Uma Música Só.
    Fazer a lista de bandas de uma música só não é necessariamente original, porém a maioria das listas que vemos por aí (na MTV por exemplo) incluem ou são dominadas por bandas internacionais. Está é bem peculiar, pois elenca somente valores da nossa terra, nem tão valorosos assim.
    Para estabelecer as posições do top usei 2 critérios como parâmetro: quanto a música fez sucesso e quanto a banda conseguiu emplacar outra música nas paradas. Ou seja, o fato da música ter feito muito sucesso e da banda nunca mais ter emplacado outro sucesso no cenário musical brasileiro, posiciona-a na lista. Cá entre nós, não são bons critérios, tampouco justos, mas e daí?
    Para tornar a lista ainda mais (in)útil criei outro indicativo: status atual da banda. E são quatro os status possíveis:

    1. faz poucos shows por ano, em cidades minúsculas, para público irrisórios, ganhando um cachê de fome e são obrigados a tocar o seu grande sucesso algumas centenas de vezes;
    2. virou banda de baile;
    3. tocam somente em confraternizações familiares ou aniversários de amigos próximos, a troco de comida e cerveja;
    4. ostracismo total
    Sem mais delongas vamos ao TOP 10 BANDAS OU CANTORES NACIONAIS DE 1 MUSICA SÓ!

    10 - P.O. Box - Papo de Jacaré
    Status Atual: 1
    Os mais preciosistas dirão que é injusto o P.O.Box estar nessa lista, pois também tiveram outro sucesso, “Não To entendendo”.
    Como as duas músicas são péssimas resolvi somá-las, o resultado deu quase uma.

    9 - Akundum – Emaconhada (Erva Danada)
    Status Atual: 4
    E alguém lembrava que era a banda Akundum que cantava esse grande sucesso? Não, nem eu.
    Uma coisa interessante que percebi fazendo essa lista é que no Brasil músicas de baixa qualidade fazem muito sucesso. Reparem nesse trecho da letra dessa canção: “Que que eu faço seu dotor?/Que que eu faço seu dotor?/ Essa menina tá cheirando erva danada./- Isso não se cheira pai, isso fuma”. Sem mais.


    8 - Dogão - Dogão é Mau
    Status Atual: X (o pior é que tudo não passava de um desenho)
    O pior era o Mano Cabuloso, que era meio gago ainda. E nunca mais se ouviu falar do Dogão, que descanse em paz, afinal deve existir Céu pra cachorro.


    7 - Dallas Company – Clima de Rodeio
    Status Atual: 2
    E essa é outra música besta que fez sucesso, e como tocou nas rádios e TV. E o refrão é bem pegajoso, quem não se lembra “Alô galera de cowboy. Alô galera de peão. Quem gosta de rodeio bate forte com a mão”. Que saudade do sertanejo de raiz.


    6 - O Surto - A Cera
    Status Atual: 1
    Das bandas e músicas dessa lista essa a que eu acho menos ruim. Não que os excertos “Dessa historia de pirar meu cabeção” e “E o piercing dela refletia a luz do sol“ sejam de grande valor poético. 
    O Surto até conseguiu mais algum sucesso, pequeno é verdade, com a música “Tudo é Possível”, mas não foi suficiente para tirar a banda desse top.


    5 - Virgulóides – Bagulho no Bumba
    Status Atual: 3
    E foi na onda dos Mamonas Assassinas que os Virgulóides conseguiram emplacar essa m... nas paradas de sucesso brasileiras. E sabe o que é pior, a música não é engraçada, o clipe não é engraçado e os caras também não tem graça nenhuma. E foi por isso que os Virgulóides se transformaram em ponto final.
    “É, é, é, eu acho que o bagulho é de quem ta de pé.”


    4 - Rodney Dy – Funk da Pamonha
    Status Atual: 3
    Não duvido que alguém dirá que a música “Espetinho de Guria” também fez sucesso, e que além dessas o Rodney Dy compôs “O Carro dos Churros”, “Funk do Minhocão” e “O Emo Corre”. 
    O importante é que o porto-alegrense Rodney Dy morreu, pelo menos nas paradas de sucesso. E a quem diga que nem nasceu.


    3 – Bragaboys – A Bomba
    Status Atual: 4
    E já foi mais metade da lista e não tem nenhuma música de qualidade, e a tendência é permanecer assim, reforçando a idéia que para fazer sucesso no Brasil não precisa de muito, por essas e outras que eu continuo acreditando no sucesso do MC Phudy. Para quem não se lembra link abaixo:
    E dá-lhe ostracismo!


    2 - Cogumelo Plutão – Esperando na Janela
    Status Atual: 1
    Ta ai uma banda que sintetiza bem essa lista, o Cogumelo Plutão. A música em questão estourou nas paradas brasileiras, tocou demais nas rádios, e a banda se apresentou não sei quantas vezes na TV. Mas e depois? Nunca mais conseguiram sucesso. É a típica banda que enquanto existir vai ter que tocar “você é a escada da minha subida...”.


    1 - Kaoma – Chorando se Foi
    Status atual: 2
    Quando ouvimos falar da banda Kaoma logo nos vem à cabeça essa música, e como não lembrar do seu refrão mega pegajoso “Chorando se foi quem um dia só me fez chorar”. Eu até tentei encontrar um outro sucesso da banda, mas nada, é só isso aqui mesmo “A recordação vai estar com ele aonde for”. Para se ter idéia do sucesso dessa música recorri ao Wikipédia e olha o que eu encontrei lá “A canção atingiu o primeiro lugar nas paradas da Áustria, do Brasil, da França, da Noruega, da Suécia e da Suíça quase que simultaneamente”. É possível dizer que o Kaoma chorando se foi para nunca mais voltar, com os bolsos cheios pelo menos.
    Para saber mais veja o filme “Lambada a dança proibida”, presente nas melhores e piores locadores de sua cidade.

    Você sabe de mais alguma banda de uma música só? Escreva nos comentários.

    sexta-feira, 11 de março de 2011

    8000

    E nesse exato momento o Blog De Leigo para Leigo atinge 8000 visualizações. Pode não parecer tanto, e não é mesmo, mas para mim é muito significativo.
    Gostaria de agradecer a todos que de alguma maneira colaboram com esse blog. S2 pra vocês. hehehe

    quarta-feira, 2 de março de 2011

    MEMÓRIAS DE UM ESTUDANTE DE MENTIRA (4)

    Este post traz mais um capítulo da aclamada série “memórias de um estudante de mentira”, após publicar as memórias de outros estudantes de mentira, volto com tudo com as minhas lembranças. E nada melhor do que voltar em grande estilo, com mais histórias do Man.

    O Lobo da CEU
    O Man era um sujeito muito criativo, pena que nem todos conseguiam entender essa sua característica. Entre suas tantas invenções destaco a criação do Lobo da CEU. Simplificando (porque é simples mesmo) o Lobo da CEU era qualquer um que fosse até a janela de seu quarto e uivasse desesperadamente visando incomodar os outros moradores da casa e os prédios vizinhos. Você já deve imaginar qual era o horário preferido para os uivos, madrugada é claro, e de preferência em dias de semana. Em pouco tempo a pratica de uivar na madrugada já havia arrebatado vários outros seguidores, se tornando uma febre na CEU. É claro que nem todos admiravam essa febre, protestando com gritos ou atirando ovos pela janela, um desses chegou a atingir um dos Mans, mais especificamente o BlackMan.
    O campo de atuação dos uivos do Man não ficou restrito aos arredores da CEU, ele passou a uivar nas ruas, bares, supermercados e outros ambientes propícios. Uma vez estávamos caminhando pela República (rua de Porto Alegre) quando nos deparamos com uma senhora varrendo a calçada, o Man tomado de certa culpa perguntou para a senhora se podia uivar naquela rua, diante da afirmativa recebida ele encheu os pulmões e soltou um uivo tão alto que causou inveja aos lobos mais experientes da matilha.
    O sucesso do Lobo atingiu a grande rede, e é possível visualizar no vídeo abaixo uma outra vertente desse símbolo da CEU, a sua veia artística. Importante ressaltar que a letra da música também é de autoria do Man. Vejam e tirem suas próprias conclusões.

    Sopapos a revelia
    Essa história do Man me trouxe muitos incômodos. Antes de entrar no caso propriamente dito é necessário contextualizá-lo.
    Na época do ocorrido o Man não era mais morador oficial da CEU, porém ele passava um tempo considerável no quarto em que o Mineiro e eu residíamos, era um hóspede do barulho, digamos assim. Essa hospedagem não era ilegal, mas nos dava caráter de responsáveis pelas atitudes do Man enquanto estivesse dentro da casa. Ser responsável pelo Man não é uma coisa muito fácil, ser qualquer coisa dele já não é simples.
    Enfim, naquela fatídica manhã o Man chegou da balada um tanto quanto alterado. Só pra constar, a palavra balada no dicionário do Man significa: “Passeio aos inferninhos do centro da cidade com vistas a encontrar alguma mulher, independente de características estéticas e idade, disposta a uma noite de sexo sem compromisso em troca de um vale transporte e um doguinho (no valor de um real) da barraca do seu Hélio”.
    Então, o Man não chegou muito sóbrio da balada e teve uma grande ideia: arrombar a porta de um dos moradores (que por motivos de segurança chamarei de REI) e surrá-lo pelo corredor do 7º andar. Ideia pensada e ideia executada. Antes dos desdobramentos da surra falarei um pouco sobre o REI. Essa não foi a primeira coça que ele levou, tampouco a última, anteriormente ele já havia apanhado por diversos motivos, inclusive por ter defecado no ralo do chuveiro. REI era um sujeito perturbado, mas alguns achavam que ele era louco de esperto, isso sim.
    Voltando, o Man chegou umas 7h da manhã na CEU, deu uma bica na porta do REI e começou a estapeá-lo, a esse restou correr pelo corredor gritando por socorro. Pedido esse infrutífero por todos saberem de quem se tratava. Nesse momento o Mineiro e eu fomos despertos pelo estridente barulho de um tapa bem dado na lata de alguém, logo juntamos os pontos e percebemos que se tratava de mais uma do Man. A reação inicial foi levantar e trancar a porta com o claro objetivo de não relacionar os acontecimentos do corredor com o quarto 721, mais tarde delatores entregaram para a administração da CEU que éramos nós que hospedávamos o Man.
    Resumo da história em tópicos:
    • recebemos uma intimação para comparecer na administração;
    • o Man foi terminantemente proibido de pisar em qualquer território pertence a CEU;
    • o ouvidor de ópera do REI ficou zunindo alguns dias e a porta de seu quarto precisou ser consertada;
    • e o mais legal, todos (ou quase todos) moradores da CEU tiveram uma manhã bem mais agradável ao ouvirem os gritos de dor de um morador indesejado.
    São desses fatos que os mitos são feitos. Esse era o jeito Man de fazer as coisas, todos momentos eram potenciais para que ele arrumasse confusão, e como arrumava, e normalmente a culpa recaia sobre outras pessoas, o Man saia ileso na maioria das vezes, mas nem sempre.