segunda-feira, 2 de maio de 2011

MEMÓRIAS DE UM ESTUDANTE DE MENTIRA (6)

A noite de Poa na visão do Man

É possível definir o Man como um ser noturno, assim como a coruja, por exemplo, ele usa a noite para caçar, se alimentando de pequenos ou grandes mamíferos do sexo feminino, que aceitavam essa condição alimentar em troca de doguinhos (mini cachorro-quente) e vale transporte. Confesso a vocês que não me recordo de vê-lo dormindo antes das 4h da madrugada. Para o Man o dia servia apenas para fazer o seu sono reparador e fingir que procurava emprego. Sobre essa parte dos empregos falarei em outra oportunidade, pois, sem dúvida, merece um tratamento mais substancial.
Muitas pessoas acham que conhecem a noite de Porto Alegre, mas poucos podem falar com tanta propriedade quanto o Man. Em seus áureos tempos ele freqüentou as baladas mais elegantes de Poa, claro que isso não teve a duração desejada e as dificuldades monetárias fizeram-no procurar entretenimento nos inferninhos do centro, que além de mais baratos eram bem mais divertidos.
Antes de contar as histórias é fundamental definir esses locais tão difamados, os inferninhos. A maioria das definições que eu vi enquadram os inferninhos como prostíbulos, eu tendo a discordar. Para mim os inferninhos são: pequenas boates classe D freqüentadas por um grupo específico de pessoas (em sua maioria desprovidas de beleza), que cobram taxas ínfimas de entrada (geralmente dão cerveja como brinde), em sua maioria não possuem saída de emergência visível, tem um estilo musical peculiar (tchê music e funk) e onde as freqüentadoras não estão buscando nenhum tipo de relação financeira em troca de sexo (fazem só por doguinhos e VTs). Resumindo: neste texto o termo inferninho não é sinônimo de “casa da luz vermelha” e sim de “latrina do inferno”, como o Man mesmo costuma dizer.
Então, o Man tem inúmeras histórias dos inferninhos, só que muitas ninguém presenciou, até porque ele só conseguiu me convencer de acompanhá-lo três vezes a esses inferninhos. Pode ter sido mais vezes, ou menos, quem sabe?
Todas as vezes foram muito engraçadas, porém uma delas ficou marcada para sempre em minha memória, a ida ao Bianchini (não encontrei informações sobre o local em nenhum guia da Internet). Para melhor compreensão sobre o local, contarei três histórias que só poderiam acontecer neste antro:
  • O segurança: o Man conta que certa vez ao chegar no Bianchini viu o seu amigo segurança com o braço engessado, tomado de certa compaixão o Man perguntou “O que aconteceu com o braço guerreiro” e para sua surpresa o segurança respondeu mostrando uma barra de ferro escondida sob o gesso “nada não”;
  • A moça sentada: em outra ocasião o Man visualizou a mulher mais feia do recinto (um páreo duro) e resolveu tirá-la para dançar, ao se aproximar da moça ele fez o gesto que indicava suas intenções esperando que ela se levantasse para iniciarem o bailado, e nesse momento então, para sua total incredulidade, ele percebe que a moça já se encontrava em pé;
  • O maior dos anões (essa eu presenciei): estava observando as pessoas do local, e suas relações, quando percebo que no mezanino se encontrava um ser humano de estatura inferior, um anão por assim dizer, que parecia ser o dono do lugar. Ele chamava as mulheres e oferecia, sem cerimônia, petiscos e bebidas, quase sempre o anão era cumprimentado com selinhos e estava abraçodo com mais de uma mulher (de estatura padrão, diga-se de passagem). O anão era o “cara mais grandão” do recinto, mandava prender e soltar. Mas como todos sabem a vida é uma roda gigante, e não é que no outro dia o nosso querido amigo “Mister Miner” encontra o mesmo anão em uma parada de ônibus pedindo aos transeuntes auxílio para adquirir um vale transporte. Essa situação me fez lembrar do velho ditado, “Em terra de anão, quem tem VT volta pra casa”.

Um outro caso engraçado (trágico também) ocorrido com o Man se passou no inferninho “Encontros”. Este é provavelmente o pior lugar que eu pisei em minha vida, a sorte é que quando eu fui lá estava acompanhado do Man (sorte, entenderam?). Mas a história trágica do Man ocorreu em uma noite sem a minha presença. Vamos aos fatos. Pelo que consta o Man estava em mais uma de suas incursões a latrina do inferno quando um dos vários espíritos sem luz do local cedeu aos seus encantos, o Man achou estranho o fato de não precisar embebedar a moça ou levá-la para comer um dog, mas aceitou o convite para saírem dali e irem para um lugar mais reservado. Aos beijos eles saíram do “Encontros” para um outro tipo de encontro (desculpem o péssimo trocadilho). Enquanto caminhavam pelas seguras ruas da capital gaúcha, o Man percebeu que o trajeto proposto pela moça levava a praça da Alfândega (que é provavelmente o pior lugar para estar em qualquer situação). Como o Man é vacinado e não tem medo de nada, imaginou que as escuras moitas da praça poderiam servir de alcova para seus fetiches mais sórdidos. Mas como já é de senso comum, “quando a esmola é demais o Santo desconfia”, e nesse caso além de desconfiar o Santo aprontou uma para o Man. Chegando à praça o Man não percebe a presença de um terceiro elemento e em uma fração de segundo ele é surpreendido por um assaltante, ser assaltado em Porto Alegre não é incomum, mas o que deixa o Man abismado é o fato de sua companheira ter o deixado e se posicionado ao lado do assaltante. É isso mesmo que você está pensando, o nosso herói foi vítima de uma vil arapuca planejada por uma quadrilha (casal) de assalto a bêbados excitados. Mas existiam duas coisas que essa meticulosa quadrilha não previa, primeira: o Man além de bêbado excitado também é um dos caras mais pobres da noite porto alegrense e segundo: existiam policiais próximos ao ato do crime. E esses policiais chegaram descendo o cassete e como na noite ninguém é santo o Man acabou levando algumas bordoadas mesmo sendo inocente (em ambos os sentidos).
As histórias do Man não param por aqui, fiquem ligados que a qualquer momento tem mais.

4 comentários:

  1. É o que eu sempre digo também Poeta, "Em terra de anão, quem tem VT volta pra casa”....

    Abração,

    Alex

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  2. "Como o Man é vacinado e não tem medo de nada, imaginou que as escuras moitas da praça poderiam servir de alcova para seus fetiches mais sórdidos." hahahaha
    Muito bom o texto man.... pior que eu ouvi todas essas histórias da boca do protagonista...

    Ah, é verdade. O anão estava naquela parada do agronomia embaixo do viaduto da salgado com a joão pessoa, com o mesmo cavanhaque da galã de rodoviária...

    Abraço

    Mr. Miner

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  3. Carlinha Moreira Neves4 de maio de 2011 às 15:54

    Não posso acreditar que a tal "meticulosa quadrilha" se preste a armar golpes contra pobres coitados frequentadores dos inferninhos da noite do centro portoalegrense. Isso quer dizer que pode ter gente "graúda" frequentando o baixo mundo, os que portam mais que o VT pra voltar pra casa por exemplo, o que não é caso do nosso querido Man e nem do Anão.

    Esse ditado do Anão, eu vou levar pra vida toda... rsrsrsrs

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  4. É uma silada Bino!
    Pedro

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