quinta-feira, 22 de julho de 2010

ARTES: As sensações de Magritte

"Resolver a contradição até agora vigente entre sonho e realidade pela criação de uma realidade absoluta, uma supra-realidade."
(André Breton sobre a criação do surrealismo)

É com essa frase do idealizador do surrealismo que dou início a mais um post. Discutirei  as sensações transmitidas por 3 quadros do pintor belga René Magritte: A Reprodução Proibida (obra que estampa o Blog, lado superior esquerdo), As Graças Naturais e Os Amantes (imagens abaixo).

As Graças Naturais (1963)
Os Amantes (1928)

Antes de falar dos quadros, vou falar do surrealismo. Pq gosto tanto dos surrealistas?
A resposta dessa questão, para fazer algum sentido, tem que ser dada por um leigo em artes, meu caso.
O bacana dos surrealistas, mais especificamente de Magritte, são as sensações que se tem ao olhar uma obra. Procurar entender a real intenção do pintor é um desafio infundado, o importante são as emoções transmitidas. Transpor a realidade, ignorar a lógica pré-formulada e se negar aceitar coisas concretas. Isso é surrealismo.
Em relação aos quadros, o primeiro (A Reprodução Proíbida) é tão impressionante para mim que o escolhi para estampar o Blog. É impossível ficar indiferente. A sensação mais apropriada para esse quadro é a angústia. Imaginar como seria se olhar no espelho e não ver o habitual, ver a partir do referencial do seu referencial. É uma insanidade completa, mas eu adoro. Viva o surrealismo. 
Já o quadro As Graças Naturais é um pouco menos impactante, o que chama a atenção é a originalidade(palavra que não devemos usar para os surrealistas) e as cores, ou a ausência delas. Me passa uma sensação agradável, não necessariamente alegre. É um belo quadro.
O quadro Os Amantes foi apreciado de cara, na primeira olhada já gostei. Isso é interessante, existem quadros que gostamos automaticamente, mesmo que não tenhamos refletido a respeito dele. A estética sobressai ao significado, apesar de ele estar presente, muito presente. Entendo que o pano sobre as cabeças ameniza a culpa dos amantes, mas não os absolve. Outro ótimo detalhe é o homem trajando terno o que sugere algo menos casual, intensificando a questão da amante.  É um quadro deveras interessante, deve ficar bem na parede da sala de casa.

3 comentários:

  1. Talvez por ser uma leitura fora de época, mas o quadro Os amantes me incomoda. Me chama muito a atenção o terno. Parece que tira a naturalidade, parece um uniforme da prisão burguesa capitalista. Torna o momento tão informal. Me deixa mais perplexo do que estarem escondendo os rosto. Acho o terno e sua gravata algo tão frio nessa pintura. Já o quadro das garças, achei bem bolado, mas depois de olhar algumas vezes, me dá a impressão de que as garças estão todas olhando para lados diferentes e que talvez isso queira dizer alguma coisa (ou não como diria Caetano).

    No mais, continue com os posts poeta.

    Abração,

    Alex.

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  2. Caro Mascote,

    Acho que o bacana da pintura e mais especificamente do surrealismo é a possibilidade das interpretações. Nada é definitivo e nada é condenável tb.
    Abs e continue comentando.

    Neves

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  3. Sim, muitas interpretações! Eu, por exemplo, tenho uma sensação completamente diferente dos meus caros aí acima.
    No quadro Os Amantes, posso imaginar que os amantes no caso não são representantes de uma relação extraconjugal, uma traição ou algo "proibido". Ser amante aí, representa algo mais simples e puro. Tenho essa impressão pois a expressão de cotidiano a que o quadro me remete, me faz pensar em uma cena típica do esposo chegando em sua casa após longa jornada de trabalho (isso explica o terno) e sendo recebido por sua esposa (vestindo algo bem comportado) e por sua família. O véu para mim representa o amor puro que se sobrepõe a imagem e a beleza física.

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