Seguimos a saga dos estudantes de mentira com a manifestação de mais um deles, Alex, vulgo Mascote. Apesar de não ser morador da CEU, o Mascote viveu grandes momentos lá, principalmente nas festas de arromba que promoviamos (arrombavam o caixa da Associação). Enfim, vejam o que esse nobre colaborador tem a dizer.
Afinal, o que há para comemorar?
Festa pra que? Venha para a Antifesta.
2004.
Julho, outubro? Na verdade, acho que era novembro. Acho que era perto do feriado do dia 15. Não lembro a cor do meu cabelo, se era laranja, vermelho, loiro ou as três cores juntas. Na verdade, acho que era preto. Acho que estava curto. Era uma época cheia de negações sobre clichês. Uma pré-crise de 3o semestre, me adaptando as duas dezenas de anos, um amor platônico pela minha melhor amiga e a falta de coragem para me declarar (só tinha coragem para passeatas de calças rasgadas e encontros com o pessoal da FAG - Federação Anarquista [AnarKista] Gaúcha e movimentos de estudantes de Maceió... Mas isso tudo hoje é apenas uma fotografia nas paredes da lembrança. Mas como dói! ). Estava em uma fase punk, grunge? Na verdade, acho que era pós-punk. Acho que era uma fase intimista. Acima de tudo intimista. Não tinha vontade de sair, preferia ficar ouvindo how soon is now e ler poetas franceses do século XIX.
Andando pelo Campus Vale eu vejo um cartaz noir instigante. Vinha com perguntas provocativas como "cansado das festinhas ao som de Creedance?". Aquilo chamou muito minha atenção. Anotei o endereço, horário (Casa do Estudante? Sala X? É a mansão dos X-men?). Convenci dois amigos a irem comigo (não foi tão difícil, pois eu, depois de tanto tempo, finalmente estava indo a uma festa – NÃO É UMA FESTA, É UMA ANTIFESTA – dizia isso como resposta a eles). Após a festa, peguei um cartaz que estava no Vale e o guardei. Tenho até hoje, mas por preguiça, não o procurei para tirar as palavras certas e a data certa da festa para colocar no texto.
Vesti minhas roupas pretas (que era o único tipo de roupa que tinha na época), e fui com meus amigos para a tal de CEU. Cheguei cedo, muito cedo... Mas já era noite, ruas escuras, assim como a sala era escura, com as janelas escurecidas, balões negros, velas e uma TV passando Nosferatu. Love, love will tear us apart, again... Era o que sofregamente cantava Ian Curtis quando chegamos. Lá encontrei o Márcio, sim o Bahiano arretado do Márcio, dono de um dos melhores, senão do melhor poema não publicado, o cara que usa vários apelidos em seus textos, um sociólogo em formação. Não o conhecia. Quero dizer, apenas o vi algumas vezes em Drama e Narrativa ou alguma dessas cadeiras da Letras. Me recebeu bem, veio conversar comigo, me ofereceu uma caipirinha 'no amor' (meus amigos e eu achamos o máximo e usamos por um longo tempo, para ser sincero, até hoje essa expressão). Estava lá também (ou não?) o Eduardo, sim, Soledade. O Ex-Eterno Presidente da AMCEU, no tempo em que o mesmo não tinha namorada, falava com simples mortais portoalegrenses (ah, esses garotos da capital não sabem de nada) pessoalmente e até por msn, mandava e-mails, pedia ajuda com o Torre de Babel e era um humilde sociólogo em formação que também era meu colega junto com o Márcio. Me pergunto até hoje como ele ficou assim e o Márcio não.
A antifesta foi perfeita, exceto pelo fato de uns Dark/Góticos extremos (um inclusive meu colega na Letras) chegarem lá, estourarem os balões e irem embora revoltados por que não era uma festa extremamente dark. Márcio gravou um CD da festa e vendeu para o meu amigo, eu conversei um monte com uma garota das Sociais que nunca mais vi, não lembro o nome, mas, que se fosse hoje em dia eu trovaria e chegaria nela. Na verdade, acho que não. Acho que nem ao menos conversaria tanto. Não me lembro se fomos os últimos a sair. Rezo todo o dia para esquecer tudo que vivi entre o início de 2003 ao final de 2005. Na verdade, acho que até adiante disso. Acho que quero esquecer minha vida. Depois disso, comecei a frequentar muito a CEU e a sala X. Virei fã do Torre de Babel, uns meses antes e depois vim a descobrir que eram esses caras que escreviam e que tinhamos sonhos, idéias e ideais em comuns... Até mesmo o Eduardo.
Uma das festas que fui foi a festa junina de 2005. Tenho a impressão que fui sozinho a essa festa, não sei, mas a umas anteriores e posteriores havia ido sozinho. Fui o primeiro a chegar e fui recepcionado pelo Márcio com um gravador (estava fazendo uma transmissão ao vivo para uma rádio e começou a me entrevistar). Não lembro muito o que falei, mas lembro que fui também o último a sair dessa festa e quis ajudar na limpeza (bêbado, mas quis ajudar, porém, não deixaram). Acho que foi nessa festa que conheci o Mestre Putinga, autoridade/divindade máxima e meu iniciador no bocabertismo a Jana-de-estrela-com-a-voz-mais-bonita-do-mundo, o Emerson, sim, o Poeta, criador deste blog ao qual tenho a HONRA de escrever essas singelas, puras e sinceras memórias mentirosas. A certa altura da madrugada ganhei um chapéu de palha que começou a ser assinado por todos esses já citados – inclusive o Eduardo que na época desprendia alguns segundos de sua vital existência para comigo – e onde me deram a alcunha que até hoje sustento: Mascote. Primeiramente fui mascote da sala X, como consta no chapéu que até hoje guardo, mas que depois, tal qual um pokémon, evoluí, também não me lembro por causa de quem ou como, para Mascote da CEU. Lembro que alguém, acho que o próprio Emerson, me viu com o chapéu e não queria que eu o levasse, até que alguém explicou que tinham me dado aquele chapéu. Gastei todo meu dinheiro na festa, voltei a pé em plena madrugada pela João Pessoa, Osvaldo Aranha e Ipiranga cambaleando com um chapéu de palha na cabeça (depois dizem que bêbados não tem anjo da guarda... Pôxa, para me cuidar assim, só mesmo um arcanjo). Outras festas fui, mas ai já dormi 'clandestinamente' em um quarto e outro (sempre havia um colchão), teve um aniversário que de noite fui para lá e só voltei no outro dia.
Depois de um tempo, as pessoas começaram a sair da casa, sair da UFRGS, sair... O acaso, o destino e os D43s fazem com que nos encontremos às vezes e é assim mesmo. Sei que muitos dos leitores do blog não me conhecem. Sei que nunca fui um morador de lá, apesar de ter passado várias noites (não sequênciais) lá, frequentá-la por vários anos (não diariamente, nem semanalmente e muitas vezes, nem mensalmente), sei que minha história não envolve momentos midiáticos, revoltas contra o status quo, loucuras pela capital, mas a CEU participou de revoluções internas, reflexões, um simbólico big bang de emoções, sentimentos muitas vezes invisíveis ao mundo. Porém ela, assim como muitos de seus moradores, fazem parte da minha história, do meu verbo ser em todos os tempos e modos e, por mais que queira esquecer muitas coisas, sempre gosto de relembrar e até tentar lembrar mais dessas Memórias de Um Estudante de Mentira.