quinta-feira, 29 de julho de 2010

LITERATURA: Contos selecionados de humor (Luis Fernando Veríssimo)


"A ressaca era a prova de que a retribuição divina existe e que nenhum prazer ficará sem castigo." (De Ressaca, Luis Fernando Veríssimo).

Selecionei três contos de humor do meu cronista favorito, Luis Fernando Veríssimo. São três temas bem diferentes, mas que dão a dimensão de quão interessante e engraçado pode ser um conto de Veríssimo.

O primeiro é o conto De Ressaca (link: http://ronaldorossi.com.br/blog/?p=1235). Veríssimo, com um profundo conhecimento de causa, descreve cada tipo de ressaca em relação à modalidade alcoólica ingerida, o que dá a esse conto um caráter de guia. Guia da Ressaca seria um título igualmente apropriado.
Ressaca é um tema recorrente na vida das pessoas, mensalmente recorrente na vida de uns, semanalmente para outros e pior ainda, diariamente na vida de muitos. A solução para isso seria simples, não beber mais, só que assim como solucionaríamos os outros problemas?
Uma pessoa de ressaca não merece ser julgada por isso, não merece dedos inquisidores em sua face e vozes em seu ouvido dizendo "bebida dá nisso, dá próxima vez eu não cuido de você!". Uma pessoa de ressaca merece aplausos, merece ser invejada, ser alçada ao patamar de rei das multidões, bacharel, diplomata, embaixador. Porque a ressaca é para poucos, muitos conseguem beber dignamente mas poucos encaram a ressaca da mesma forma. A ressaca é o acerto de contas do álcool conosco, e os que a encaram de frente merecem nosso "respeito tecnológico".

O segundo é o conto Solidão (link: http://diariograsiela.wordpress.com/2010/03/11/solidao/).
Neste texto Veríssimo narra como seria uma experiência de isolamento total de um ser humano durante longo tempo. Além do caráter humorístico, esse conto da margem a discussões sobre a vida em sociedade, a mente humana e o autoenxadrismo (jogar xadrez consigo mesmo). Como a experiência do isolamento total já foi descrita por Veríssimo, não faz sentido recriá-la de maneira idêntica, sendo assim, eu vou além, a experiência relatada abaixo tem como cenário um quarto de uma residência estudantil (2,5x4 metros), nele temos um triliche, uma coleção  antiga da revista Super Interessante, alguns livros do Kafka, um ebulidor mergulhão, meia dúzia de ovos, um radiorelógio que só pega Caiçara, 1/4 de queijo minas, uma mini garrafa de cachaça, 2 passagens escolares, fita adesiva, um corpo desenhado no chão, fósforos, uma tesoura sem ponta e uma colher de chá. Dois homens ficarão enclausurados nesse quarto durante 1 ano, que para fins científicos serão identificados por R. e H.  O primeiro é um desconhecido corretor de imóveis sem registro de classe com muitos problemas (soluções) afetivos, financeiros e psicosociais, o outro é um aluno de engenharia mecânica que está a 8 anos  na faculdade e ainda tem cadeiras abertas do 1º semestre. A saber: R. é cantor, H. é músico. R. é mundano e H. é extraterreno. R. é insano e H. lunático.
Ás 24h e 30min de 30/02 R. e H. são trancados no quarto, começa a experiência...

Já o terceiro conto, Dia da Confraternização (link: http://bardobulga.blogspot.com/2007/11/dia-da-confraternizao.html), fala sobre as agradáveis confraternizações das empresas, geralmente feitas no final do ano. Quem nunca passou por isso? Esse é um dia extremamente desgastante e hipócrita na vida de um profissional sensato, para os alpinistas sociais é uma oportunidade.
Não com tanto brilhantismo (não tem pretensões de concorrer com Veríssimo) ,  farei algumas observações e darei algumas dicas de como se portar em uma confraternização da empresa.
O começo é sempre cauteloso, algumas pessoas tentando se reconhecer, as vezes sem sucesso,  e outras procurando lugar para sentar. Encontrar o local certo para sentar será determinante para sair ileso, ou não, dá confraternização. Locais reclusos e de difícil localização visual vão te dar o ostracismo que a situação pede, o preço será a distância para os salgadinhos, mas tenha em mente que nessa ocasião o seu respeito na empresa é mais importante que a fome.
A palavra do Diretor/Gerente deve ser ouvida com aparente atenção, e comentários a respeito de sua opção sexual não devem ser proferidos, haverá melhor momento para eles. Na hora do buffet, defenda-se com todas suas forças, sem perder a etiqueta. Ataque à mesa de salgados pelos flancos, avanços abruptos e frontais tornam seu rosto conhecido e, por vezes, podem ser infrutíferos. Tente estar em vários pontos e ao mesmo tempo em lugar nenhum, o importante é não ser notado.
No sorteio dos brindes, não surte quando a TV 50 polegadas for para  o cara mais chato e puxa saco do seu setor, nem quando o seu nome for chamado para receber um lindíssimo kit com boné, chaveiro e squeeze da empresa.
A partir desse momento cada segundo até o final da festa terá a dimensão de uma hora. Sorria quando precisar, aplauda quando todos aplaudirem e torça ao máximo para ninguém te convidar para participar das brincadeiras. Se tudo isso for demais para você, a demissão é o melhor caminho.

Post-Scriptum: Qualquer associação deste post com a realidade será tratada como invenção de uma mente doente.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

MÚSICA: Jorge Drexler Ao Vivo

"En tren con destino errado se va más lento que andando a pie." (Alto el Fuego, Jorge Drexler)


Imagino que todo mundo tenha um show que gostaria muito de ir, algo do tipo "o show da minha vida", o meu era Jorge Drexler. Depois de algumas desventuras e incompatibilidades geográficas e financeiras tive a oportunidade de assistir o músico uruguaio no último sábado(24/07). E posso garantir, não saí decepcionado do teatro.

O problema de assistir a um show com uma defasagem de 4 anos é o repertório. As músicas que eu mais gosto são de 3 ou 4 cds atrás e é claro que o artista, nos shows, prioriza o seu último trabalho. Mas, como o Drexler não faz música ruim, o show foi histórico, para minha história pelo menos.

Pq eu gosto tanto de Jorge Drexler?

Ao contrário de muitos fãs eu conheci o músico, intérprete e compositor antes de vencer o Oscar 2005 de melhor canção com "Al outro lado del Rio" do filme Diários de Motocicleta. Eu conheci seu trabalho ouvindo a Hora do Rush da Rádio Pop Rock. E foi paixão a primeira ouvida, a música Deseo era ótima, uma letra brilhante que falava sobre relacionamentos entre pessoas com personalidades diferentes, desafiando a banalidade das "caras metades", enfim, uma grande música. Depois disso, comecei a respirar Jorge Drexler, vídeos no youtube, download de Cds, entrevistas. Já começava eleger Jorge Drexler como o melhor cantor do mundo e o melhor compositor tb. Uma grande parte das letras de Drexler são simples, falam sobre amor correspondido mesmo, sem muitas desventuras, sem dor de corno ou coisa do tipo. Em um outro viés, Drexler, fala sobre a sociedade, política e até sobre a globalização (música Disneylandia, por exemplo). Elementos como magnetismo, causas e efeitos, física, fusão, aparecem em suas letras. Isso que nem falei das melodias, que são extremamente doces e relaxantes, Drexler não quer o mundo agitado, em seu mundo a calma predomina.

Sobre o show em si. Foram 2h e 20 min. de puro entusiasmo de minha parte, cantei o que eu sabia, enrolei no que eu não sabia e acompanhei com palmas em outras canções. O cara é muito simples, humilde, transforma toda a atmosfera do show em algo amigável, sendo desejando saúde a uma espectadora resfriada, sendo para pedir, cantando, que diminuam a luz no palco.
Cantou algumas músicas do novo cd "Amar la Trama" e fez releituras das músicas antigas, nada igual aos CDs, quem queria ouvir versões originais se decepcionou. Ele fez tudo diferente, o que eu acho bem acertado, afinal de contas se eu quero ouvir igual ao CD, que eu ouça o próprio. O ponto alto foi à música "Se vá, se vá, se fue", que fala em sua letra "Se tudo começa e tudo tem um final, há que pensar que a triste também se vá".
Posso dizer que foi um dos 3 melhores shows da minha vida, juntamente com Lenine e Zélia Duncan.
E para encerrar, mais um trecho traduzido de Drexler.


"O mundo está como está por causa das certezas, a guerra e a vaidade comem na mesma mesa" (Fronteira, Jorge Drexler).

quinta-feira, 22 de julho de 2010

ARTES: As sensações de Magritte

"Resolver a contradição até agora vigente entre sonho e realidade pela criação de uma realidade absoluta, uma supra-realidade."
(André Breton sobre a criação do surrealismo)

É com essa frase do idealizador do surrealismo que dou início a mais um post. Discutirei  as sensações transmitidas por 3 quadros do pintor belga René Magritte: A Reprodução Proibida (obra que estampa o Blog, lado superior esquerdo), As Graças Naturais e Os Amantes (imagens abaixo).

As Graças Naturais (1963)
Os Amantes (1928)

Antes de falar dos quadros, vou falar do surrealismo. Pq gosto tanto dos surrealistas?
A resposta dessa questão, para fazer algum sentido, tem que ser dada por um leigo em artes, meu caso.
O bacana dos surrealistas, mais especificamente de Magritte, são as sensações que se tem ao olhar uma obra. Procurar entender a real intenção do pintor é um desafio infundado, o importante são as emoções transmitidas. Transpor a realidade, ignorar a lógica pré-formulada e se negar aceitar coisas concretas. Isso é surrealismo.
Em relação aos quadros, o primeiro (A Reprodução Proíbida) é tão impressionante para mim que o escolhi para estampar o Blog. É impossível ficar indiferente. A sensação mais apropriada para esse quadro é a angústia. Imaginar como seria se olhar no espelho e não ver o habitual, ver a partir do referencial do seu referencial. É uma insanidade completa, mas eu adoro. Viva o surrealismo. 
Já o quadro As Graças Naturais é um pouco menos impactante, o que chama a atenção é a originalidade(palavra que não devemos usar para os surrealistas) e as cores, ou a ausência delas. Me passa uma sensação agradável, não necessariamente alegre. É um belo quadro.
O quadro Os Amantes foi apreciado de cara, na primeira olhada já gostei. Isso é interessante, existem quadros que gostamos automaticamente, mesmo que não tenhamos refletido a respeito dele. A estética sobressai ao significado, apesar de ele estar presente, muito presente. Entendo que o pano sobre as cabeças ameniza a culpa dos amantes, mas não os absolve. Outro ótimo detalhe é o homem trajando terno o que sugere algo menos casual, intensificando a questão da amante.  É um quadro deveras interessante, deve ficar bem na parede da sala de casa.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

PRIMEIRO POST

"Este é tempo de partido, tempo de homens partidos" Drummond

Com essa maravilhosa frase de Drummond damos início ao BLOG: De Leigo para Leigo.
A intenção desse Blog não é ser o mais lido do país, ou o mais comentado, nem o mais popular. Nossa intenção é trazer opiniões e discussões leigas sobre artes, cinema, literatura e música. Até pq ninguém aqui tem condições intelectuais de fazer discussões embasadas. Ou seja, se vc gosta de ler textos que talvez você mesmo pudesse ter escrito, esse é o local pra isso.
Aqui você não verá críticas elaboradas e cheias de termos técnicos sobre cinema, nem verá palavras rebuscadas e termos cheios de conotações sobre um livro. Não ficaremos horas exaltando a beleza de uma pincelada mal(bem) dada de Van Gogh e não comentaremos os novos arranjos de determinada canção.
Enfim, esse blog traz a bandeira da opinião leiga, mas limpinha.
Espero que vocês gostem e comentem ou que não gostem e comentem ou até que não gostem e não comentem, mas leiam.